Naquele dia…

Lembro-me da primeira vez em que te vi, era para ser um dia de primavera comum, mas não foi. Lembro-me de tudo: dos cheiros, das cores, dos sons... Naquele dia eu me sentia diferente, não sei como explicar em palavras, só sentindo mesmo,  foi então que te vi, você estava lá calmo, sereno apenas apreciando a paisagem, naquele instante meu coração disparou, você olhou na minha direção pensei que fosse desmaiar, mas me mantive firme sustentando seu olhar, acho que você foi a primeira pessoa que conseguiu me intimidar apenas com um simples olhar.

Naquele momento eu não sabia o que fazer, minhas mãos suavam, parecia que minhas pernas não agüentariam o peso do meu corpo, eu não conseguia nem pensar direito, não sabia se dava meia volta e ia pra casa, ou se continuava meu caminho, no fim optei pela segunda opção e continuei andando, passei por você, te olhei discretamente, mas acho que você não viu, engraçado como em certos momentos coisas tão simples, tão banais, parecem ser tão complicadas, um verdadeiro bicho de sete cabeças. O vento acariciou meu rosto e trouxe consigo seu perfume, misturado ao cheiro das flores, algo mágico. 
Meu Deus! O que estou pensando?! Eu nem o conheço, nem seu nome sei, como poderia pensar em tantas coisas em apenas segundos?! Decidi tirar tudo isso da minha cabeça e seguir em frente, afinal um dia inteiro viria pela frente. Fui para escola, como sempre, tudo aconteceu da maneira que sempre acontece: tudo na mesma chatice! E sim, eu não gostava de ir à escola, podia perfeitamente aprender sozinha, mas quem disse que convenço alguém disso? Depois da escola fui para minha aula de piano, algo que realmente amo fazer, penso ser pianista quando mais velha, mas há muitas divergências com relação a isso, traduzindo: meus pais.

A aula fora boa, aprendi uma nova música, minha professora comentou que eu estava diferente, feliz, sorridente, inspirada, no caminho de casa pensei: Por que será? E ri, fui  sorrindo até o caminho que pegara para ida à escola, meu sorriso foi sumindo, acho que tomei um susto por que te vi, você estava lá, só que agora estava de pé, percebi o quão alto você é, seu cabelo estava balançando com o vento, nessa hora pássaros começaram a cantar, e tenho certeza de que não foi minha imaginação, acho até que cantavam “Singing In The Rain”…

Certo, acho que está última parte pode ter sido minha imaginação fértil! Foi então que da mesma maneira que você me olhara mais cedo você me olhou agora só que você sorriu, te ver sorrindo me fez sorrir também. Ficamos assim um tempo, parecíamos dois bobos rindo um para outro, até que seu sorriso se desfez, o meu também no mesmo instante, você voltou seu olhar para a paisagem, eu também olhei, um lindo campo florido e perfumado, aos poucos fui me aproximando até que fiquei a poucos passos de distância de você. Vi seus olhos, eram pretos, seu cabelo castanho ainda balançava, seu perfume era o mesmo, sua roupa também.

Nessa hora me surpreendi, minha memória estava ótima, podia ser assim em épocas de provas! Nossa como é que podia pensar em provas naquele momento? Não me faça essa pergunta de novo!
Enquanto remoía meus devaneios você pegou minha mão, sua mão era quente, firme, me fazia sentir segura, apreciamos o pôr do sol juntos e nem percebemos a noite chegar, você me olhou nos olhos e mais uma vez sorriu, não pude me controlar e um sorriso escapou, ficamos assim, me sentia completamente feliz, nunca havia me sentido daquela maneira, isso era aquela tal felicidade? Pois se fosse, nunca mais iria deixar de senti-la, principalmente se estivesse com você.
 Quer dizer essa situação era completamente insana, eu estava com alguém que nem conhecia um verdadeiro estranho, que poderia ser um psicopata, ou um assassino em série! Eu estava parecendo uma garotinha apaixonada, deslumbrada, encantada, essa é a palavra que melhor descreve o momento… Apaixonada? Como?

 Eu acabara de te conhecer, é impossível, eu não conseguia pensar direito, parecia que ia desmaiar, você notou e me levou até o banco e sentou ao meu lado e ficou me olhando, confesso que aquilo estava me irritando, você por acaso era mudo? Não disse uma palavra sequer, mas por incrível que pareça me confortou com o olhar como se dissesse “Estou aqui, não se preocupe, vou te proteger… sempre”.

Não sei quanto tempo se passou, mas de repente você disse algo, seu nome, por impulso eu disse o meu, nos cumprimentamos e começamos a conversar tão simples,  parece que nos conhecemos ali, entre palavras e risos… Me lembrei que devia ser tarde e que teria de ir para casa, você se ofereceu para me acompanhar, fiquei receosa, mas me lembrei de seu olhar de antes e aceitei a oferta, peguei em seu braço e fomos conversando. Você parecia ser tão mais velho que me fazia sentir uma criança, mas tinha apenas um ano de diferença, já era tão maduro, tão vivido.

Chegamos à minha casa, dessa vez fui eu quem pegou sua mão, eu não queria soltá-la, nunca mais, você a pegou e a beijou, me desejou uma boa noite, mas ainda não havia soltado minha mão, comecei a me dirigir para a casa, mas você não me soltou ao invés disso, num movimento rápido beijou meus lábios, foi um beijo doce, carinhoso e lento, naquele momento o tempo parou, no meu mundo só existíamos nós dois, nos soltamos, dessa vez por completo, você acenou com um enorme sorriso e foi embora, naquela hora senti uma enorme tristeza, pois não sabia se o veria mais uma vez. Entrei em casa, com meus pais gritando comigo, fui dormir e sonhei, sonhei com você, com aquele dia, mal sabendo que minha vida iria mudar completamente…

E aí? Alguém já teve ou tem uma paixão arrebatadora (ó que chique!!!), ou muito louca?